Quem é Marcelino ULTRA?

Quem é Marcelino ULTRA?
- Cristiano Marcelino (36 anos) é Bombeiro Militar, Ultramaratonista, Professor de Educação Física graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Mestre em Ciências pela UFRJ. Casado com Nilce Marcelino (37 anos) e pai de Filipe Marcelino (9 anos).

terça-feira, 2 de julho de 2013

Volta do Lago - 100 Km

100 Km em volta do Lago Paranoá – Brasília / DF


A cidade escolhida para minha 24ª Ultramaratona foi a Capital Federal – Brasília.


Uma prova muito difícil. 100 Km de percurso bem duro, com predominância asfáltica e com muitas subidas.
Isto mesmo, para quem pensa que Brasília é plana, se engana até ver este percurso.
E o fator mais complicador: o clima muito seco aliado ao calor e altitude acima dos 1.100m.

Realizada no dia 09 de junho de 2013, esta Ultramaratona é uma das mais tradicionais do Brasil, sendo esta a sua 10ª edição.
Uma prova grandiosa, que envolveu 2.500 atletas divididos entre revezamentos (2, 3, 4, 6 ou 8 atletas) e individuais (100K ou 60K).
Eu escolhi a maior opção, é claro.

Para esta edição comemorativa o patrocinador da prova – CAIXA Econômica Federal, ofereceu para a categoria 100K individual um prêmio em dinheiro de R$ 20.000,00. Sendo R$ 5 mil para o 1º lugar, R$ 3 mil para o 2º lugar e R$ 2 mil para o 3º lugar, de ambos os sexos. Este fato fez com que a prova contasse com os melhores Ultramaratonistas do Brasil e alguns do exterior.

Cheguei à Brasília na manhã anterior à prova e fui muito bem recebido pelo amigo Elias Lacerda, que deu um apoio essencial para minha participação na corrida.
Após passear um pouco pela cidade e almoçar fui retirar meu KIT, realizado no mesmo lugar da largada da prova.

Retirada do KIT

Após a retirada do KIT continuamos um pequeno tour pela Capital Federal, apesar de eu já ter ido lá algumas vezes, aproveitei para conhecer uns pontos inéditos e também levar meus amigos para conhecer. Estava acompanhado por Nivaldo Filho e sua esposa Fabiane Lima, que vieram do RJ comigo para me darem apoio de carro durante a prova. O Nivaldo já tinha feito apoio comigo na Brazil 135 Ultramarathon enquanto a Fabiane era sua estreia.

Passeando pelo Planalto Central

Após tudo isto fomos arrumar tudo na casa do Lacerda, onde ficamos, e descansar para o dia seguinte.

Acordei às 3h45min para ajeitar tudo e partirmos para a prova.
Chegamos ao local da largada faltando 15 minutos para a mesma, ainda bem escuro e já pudemos ver os Ultramaratonistas se ajeitando para o início da competição. Ao todo éramos 31 homens e 4 mulheres que buscávamos dar uma volta completa no Lago Paranoá, completando os 100K.

Pronto para a largada dos 100K

Tive apoio do amigo Lacerda para esta prova, que conseguiu através de algumas parcerias uns itens essenciais para a competição. Boa parte através da Assessoria EVOLUA. A qual fomos 3 atletas para estes 100 Km individuais.

O apoio essencial da EVOLUA

Como disse anteriormente, este prova não é nada plana, apesar de não se ter grandes e íngremes subidas estamos o tempo todo subindo ou descendo as pequenas e médias elevações no percurso. Vejam só abaixo a altimetria completa da prova:

Altimetria da Volta do Lago 100K

Os 100 Km são divididos em 14 trechos, variando de 3,72 Km a 10,97 Km, onde em cada ponto era montado uma grande estrutura para transição dos atletas do revezamento.

Peguei um aparelho de rastreamento por GPS fornecido pela organização e coloquei no bolsa de minha bermuda.
As 5h20min após nos espremermos no canto do Eixão Sul foi dada a largada para os guerreiros dos 100K.

Como o primeiro trecho era de predominância de declive fui mais um pouco acelerado do que o ritmo pretendido. O carro não podia me acompanhar neste início por enquanto, somente a partir do Km 2.

Trecho 1 (9,32K)

No primeiro trecho dos 100K

Completei o Trecho 1 (9,32 Km) - 45min23seg e o sol já começava a surgir por trás do horizonte indicando um dia bem quente. Após passar meu chip no tapete de cronometragem segui em frente.

Nos quilômetros seguintes tive que entrar por uma trilha onde o carro não me acompanharia por 3 Km e já peguei meu cinto de hidratação. Na verdade fomos pegos de surpresa por esta trilha e o Nivaldo teve que correr um bom pedaço para me alcançar e me dar o cinto. Este trecho tinha umas boas ondulações.

Trecho 2 (16,67K)

Finalizei o Trecho 2 (16,67 Km) - 1h20min03seg e a área de transição ficava dentro da Universidade de Brasília (UnB).

Tão logo ingressei no asfalto e encontrei o carro de apoio pedi uma substituição de camiseta, pois esta de manga longa já estava extremamente encharcada e o sol já estava ficando forte. Aproveitei também para passar uma boa camada protetor solar (usei o MORMAII FPS 50, o melhor protetor que já usei, excelente).

Trecho 3 (21,30K)

No trecho 3 com o sol já forte

Finalizei o Trecho 3 (21,30 Km) - 1h46min50seg e tudo corria tudo bem.

O próximo trecho seria bem complicado, com terreno bem variado e cross country. Acabei me perdendo num trecho mal sinalizado do percurso, descendo para dentro de uma propriedade particular e ficando sem saber aonde ia. Chegou logo depois outro atleta perdido, junto com sua bicicleta de apoio também sem saber aonde iríamos e ficamos gritando até aparecer alguém da janela da casa e dizer que tínhamos que voltar e subir outra trilha. Tempo e distância perdidos que me deixou bem mal humorado.

Trecho 4 (27,23K)

Finalizei o Trecho 4 (27,23 Km) - 2h20min54seg e ainda estava sentindo o efeito psicológico de ter ficado perdido.

No próximo trecho consegui recuperar o estímulo, porém agora o calor era aumentado, mas ia seguindo sem me abater, com o apoio constante do carro neste trecho.

Trecho 5 (36,74K)

Finalizei o Trecho 5 (36,74 Km) - 3h12min07seg, o calor era intenso.

No próximo trecho comecei a sentir muito os efeitos do clima brasiliense e tive que ceder um pouco o ritmo, aliado também a longa subida neste ponto da prova.
Mais à frente um novo erro no percurso, um staff me orientou a sair do asfalto e entrar no canteiro central onde havia uma estrutura da prova montada. Estranhei por estar perto da próxima transição, mas segui a orientação e entrei. Vi as grades e segui por elas mas não via o tapete de cronometragem e todos me olhavam, então gritei perguntando onde eu passava meu chip, foi então que um atleta que estava lá parado me respondeu: “aqui é a largada dos 60K, vai embora!”.
Novamente fiquei transtornado pelo erro e tempo perdido. Voltei ao asfalto e segui.
Cerca de 1 minuto depois foi dada a largada dos 60K e muitos atletas foram me passando rapidamente. Neste trecho também comecei a ser ultrapassado pelos atletas do revezamento que largaram mais tarde.
Então chamei o Nivaldo e disse que queria parar no próximo ponto de ônibus – pois o mesmo era muito bem estruturado, com cobertura e bancos – assim podia fazer uma troca geral de equipamento.

Trecho 6 (44,66K)

Cheguei então ao ponto de ônibus e tirei os tênis, usava o ASICS-GEL SAROMARACER, e meias encharcadas de suor, também tirei as meias de compressão e camiseta. Logo depois peguei uma água bem gelada e joguei por cima da cabeça que me deu uma boa revigorada, então secando os pés e pernas coloquei tudo novo, agora com o ASICS-GEL PULSE 3, peguei uma camiseta seca e com uma boa camada de protetor solar segui meu caminho.
Comecei a perceber que minha urina já estava muito escura e reduzida, sabendo que era sinais de desidratação, tentava hidratar muito, porém meu organismo não conseguia absorver o suficiente.
Finalizei o Trecho 6 (44,66 Km) - 4h10min43seg, sentindo as primeiras dores ao urinar.

O próximo trecho foi bem difícil para mim. O clima já estava terrível e neste ponto ia por uma estrada sem atrativos nenhum que também era psicologicamente desmotivante.
Um atleta me passou por volta da marca de 50K e resolvi segui junto com ele e fomos conversando um pouco, falei com ele que estava com dificuldades por conta do clima. Ele me disse que não tinha problemas, pois era de Cuiabá – uma cidade com clima similar ao de Brasília. Aos poucos ele foi indo embora e pensei na hora que esse ia embora e não o veria mais...

Trecho 7 (53,10K)

Passando a marca de 50K

As dificuldades com a urina só aumentavam e também fiquei com ânsia de vômito, mas com dificuldades consegui terminar o Trecho 7 (53,10 Km) - 5h08min15seg.

O próximo trecho era de bastante subida e com o calor aumentado também a dificuldade aumentava, mesmo com a presença do carro de apoio não ficava menos dolorido fazer este trecho.

Trecho 8 (58,15K)

No Trecho 8 – muito quente

Terminei o Trecho 8 (58,15 Km) - 5h46min41seg, bem difícil...

O próximo trecho seria bem complicado, além de subidas duras também tinha um bom trecho de trilha.
Ao iniciar uma longa subida chamei o Nivaldo e disse que teria que ir ao banheiro. Chegamos a parar numa entrada de condomínio, mas não conseguimos sucesso no nosso argumento.
Comecei uma longa descida em direção à barragem do Lago Paranoá, esta descida me deu uma boa animada e apesar de já vir sentindo uma dor nas costas, que eu já sabia ser dos rins, e de ter tomado neste ponto um comprimido de Buscopan, vinha descendo bem já preparado para a longa subida – a mais dura da prova – que viria a seguir. Porém no final da descida Nivaldo me gritou dizendo que tinha um banheiro no restaurante que passávamos em frente, então temendo não ter outra oportunidade tão cedo decidi parar logo.
Após ir ao banheiro aproveitei para lavar o rosto e braços com água e sabonete e secar (quase um banho), troquei a camiseta também e passei outra camada de protetor solar, inclusive neste momento tivemos uma cena hilária: ao sair do banheiro o Nivaldo me deu tudo de uma vez só nas mãos (camiseta, cinto, viseira, protetor, gel) e fiquei meio enrolado mas dei meu jeito e deu certo, só faltando passar o protetor solar, então peguei o tubo aberto virado na posição de sair o protetor e dei na mão do Nivaldo e estendi a outra mão para ele e falei “aperta aqui” – para ele colocar o protetor em minha mão, no entanto em vez disto ele APERTOU MINHA MÃO! – Falei para ele, eu que estou mal correndo e você que está delirando!
Risos a parte segui meu caminho para a grande subida e apesar de estar mal ainda passava alguns atletas do revezamento.

Trecho 9 (69,12K)

Após a subida peguei meu cinto e entrei na trilha que também tinha subida, onde fui subindo caminhando e um atleta Ultramaratonista que estava fazendo revezamento nesta prova ao me passar me gritou. Falei para ele que não estava bem e estava com problemas devido ao clima quente e já estava urinando sangue. Ele me falou então: “CUIDADO, é melhor você parar então, eu sei bem o que é isto, eu só tenho um rim!” – falei que não desistiria de jeito nenhum e que ele podia seguir que eu já iria atrás.
Após chegar num check-point na Ermida fiz um pedaço do caminho inverso subindo para terminar este trecho.

Final do Trecho 9 – subindo...

Finalizei o Trecho 9 (69,12 Km) - 7h26min14seg, agora seriam pouco mais de 30K para a chegada.

O próximo trecho seria agora de predominância com descida, porém também com trecho de trilha em descida técnica.

Trecho 10 (74,18K)

Antes de entrar na trilha preferi parar novamente num ponto de ônibus para trocar os tênis novamente, agora colocando o ASICS-GEL CUMULUS 12, também trocando as meias, meias de compressão e camiseta. Após mais uma camada de protetor solar e tentando urinar – sem sucesso, só dor – segui em frente para entrar na trilha que me levaria até a Ponte JK.

Pit Stop no Trecho 10

Finalizei o Trecho 10 (74,18 Km) - 8h05min51seg, a exaustão era grande mas a perseverança também.

O próximo trecho teria agora um relevo bastante variado e subida forte no final. O sol era muito forte e por muitas vezes corria quase encostado nos muros das mansões ao lado aproveitando a sombra gerada.

Trecho 11 (82,11K)

A cada quilômetro percorrido tudo ficava mais difícil, porém sabia a todo o momento que ia chegar até o fim da prova.
Esporadicamente pegava o papel que tinha no carro de apoio para ver o que tinha pela frente.

Muito sol no Trecho 11

Verificando o que ainda tinha pela frente

Completei o Trecho 11 (82,11 Km) - 9h15min25seg, o fim (da prova) estava próximo.

O próximo trecho passaria pelo Pontão do Lago Sul e Ponte Costa e Silva, continuando a ser um percurso difícil, agora bem bonito.
Depois que passei o Pontão entrei numa trilha que me deixou um bom tempo sem carro.

Trecho 12 (89,19K)

Passando pelo Pontão do Lago Sul – Trecho 12

Finalizei o Trecho 12 (89,19 Km) - 10h11min06seg. Agora seriam praticamente 10 Km que me separavam da linha de chegada.

Ainda sem carro de apoio e agora quase sem água parti para o penúltimo, e mais curto, trecho da prova.
Surpreendi-me no Km 90 ao encontrar aquele atleta de Cuiabá que me passou no Km 50 e pensei de não o ver mais. Ele estava sentindo muito e andava, acompanhado de um apoio de bicicleta. Ao passar por ele fiz questão de dar um tapinha de incentivo nas costas dele e falar para ele continuar pois eram 10 Km para a chegada e que todos estavam sentindo dificuldades neste momento. Foi bom o ver voltando a correr, porém logo em seguida voltou a andar.

Trecho 13 (92,91K)

Um quilômetro depois me vi seco, sem uma gota de água, e tive que pedir água para uma mulher de bicicleta que passava. Ainda bem que ela tinha uma garrafa com água (morna) dentro da mochila.
Logo depois meu carro me encontrou e pude desfrutar de um suco gelado.

Terminei o Trecho 13 (92,91 Km) - 10h35min53seg. Agora era a hora do último e derradeiro trecho.

Porém este último não seria fácil! Era quase todo subindo...

Trecho 14 (100K)

Para finalizar, um longo retão de quase 5 Km, apesar do pórtico de chegada estar ali na frente não dava para ver devido a distância.
Neste fim as duas opções que me restavam eram bem difíceis: correr me levava a ter fortes cãimbras na panturrilha e andar me levava a ter fortes dores no joelho. Fiquei alternando os dois meios, mas me adaptei melhor a corrida com cãimbra.

Sendo assim depois de 11h32min19seg cruzei o pórtico desta duríssima Ultramaratona!

FINISHER!!!

Fiquei muito feliz de concluir minha 24ª Ultramaratona!

Feliz pela conquista!

- Medalha 100K -

O resumo dos 100K marcado em meu GPS

Depois da prova já comecei o processo de recuperação para as próximas Ultras. Fiquei em Brasília até terça-feira de manhã, retornando ao RJ já bem melhor.

O retorno ao RJ

Só tenho a agradecer a todos que me possibilitaram estar nesta prova:
- A Deus, que sempre me deu forças para superar todas as dificuldades do caminho.
- A minha família, que desta vez ficou longe, mas está sempre comigo e me dá coragem para seguir em frente.
- Ao Nivaldo e Fabiane, que se fizeram presentes e me apoiaram durante toda a prova, fazendo o melhor que podiam por mim.
- Ao Lacerda, por toda hospitalidade e por tudo que conseguiu para eu usar na prova.
- Aos meus apoiadores, que sempre confiam em mim!
- Aos meus amigos e leitores, por me acompanharem sempre, seja no cotidiano ou virtualmente.
Muito obrigado a todos!

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Até a próxima!!!