Quem é Marcelino ULTRA?

Quem é Marcelino ULTRA?
- Cristiano Marcelino (36 anos) é Bombeiro Militar, Ultramaratonista, Professor de Educação Física graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Mestre em Ciências pela UFRJ. Casado com Nilce Marcelino (37 anos) e pai de Filipe Marcelino (9 anos).

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

BADWATER ULTRAMARATHON

Correndo a 53ºC no Vale da Morte


Fui para Califórnia – EUA, para participar de minha 25ª Ultramaratona, a BadwaterUltramarathon, prova de 135 milhas (217 Km), realizada no lugar mais quente do planeta, o Vale da Morte (Death Valley), numa temperatura de 53ºC.


Minha missão: ser pacer do atleta norte americano Mike DeNoma, a qual também fiz isto para ele na Brazil 135 Ultramarathon em janeiro deste ano.

A Badwater Ultramarathon, em sua 36ª edição, é considerada a Ultramaratona mais extrema do mundo, devido a diversos fatores:
- Percurso de 135 milhas = 217 Km
- Largada realizada no ponto mais baixo do planeta – Badwater Basin, a 85,5 metros abaixo do nível do mar
- Grande parte da prova realizada no lugar mais quente do planeta, o Death Valley (Vale da Morte)
- Chegada realizada no Whitney Portal, entrada para a montanha mais alta dos EUA (excetuando o Alaska), a 2.551 m de altitude
- Desnível positivo acumulado de 3.962 m, distribuídos em 74 Km de subidas ao longo do percurso, incluindo o trecho final de 21 Km de subida até a linha de chegada
- Temperatura máxima do ar (registrada este ano) de 53ºC
- Temperatura máxima do asfalto (registrada este ano) de 94ºC. O percurso é 100% no asfalto
- Altas temperaturas até de madrugada. Registramos na primeira madrugada a temperatura de 46ºC no Death Valley
- Baixas temperaturas no trecho final. Registramos na segunda madrugada a temperatura de 12ºC no Whitney Portal
- Rígida seleção para participação da prova. Cerca de 2.500 atletas enviam seus currículos todo ano para apenas 100 serem selecionados
- Tempo máximo de conclusão de 48 horas

Altimetria da Badwater Ultramarathon

Embarquei para os EUA no dia 10 de julho de noite (dia de meu aniversário). O voo foi com destino à cidade de Las Vegas / Nevada e com escala e troca de aeronave em Miami / Florida.

Las Vegas é uma cidade espetacular, somente que já foi lá mesmo para saber tudo que tem por lá.

Em Las Vegas – ao fundo a principal rua: Strip

Após chegar à Las Vegas e pegar o meu carro alugado fui direto para um grande passeio, o Grand Canyon West, localizado no Arizona a 2h30min de carro de Las Vegas.

Entrada do Grand Canyon West

Um lugar incrível, terra da tribo Hualapai, cenário de filme, inacreditável mesmo, uma cadeia extraordinária de gigantes de canyons, com o Colorado River passando muito lá embaixo, a 1.219 metros de altura.

Eagle Point – Grand Canyon West

Após este magnífico passeio voltei à Las Vegas para conhecer a cidade. Fiquei hospedado por dois dias no MGM Grand Hotel & Casino, um Hotel esplendoroso assim como a cidade, lá entre outras dezenas de atrações são realizadas todas as lutas do UFC

MGM Grand – Minha casa por dois dias

Já tendo encontrado uma parte de minha Equipe, no dia seguinte era hora de um treino por Las Vegas. Boa opção para conhecer a cidade e se aclimatar a aridez e calor – a temperatura estava 42ºC.

Conhecendo Las Vegas correndo

Mais um dia então em Las Vegas, aproveitando bem. Mais integrantes da Equipe chegavam e fomos para um restaurante – boate, considerada a mais cara do mundo, um luxo para poucos: Hakkasan, onde (eu vi) no menu que a garrafa de champanhe mais cara custa US$ 200.000,00 (isto mesmo! 200 mil dólares).

No dia seguinte, agora com a Equipe completa, erámos sete no total: Mike (atleta), americano que mora em Londres / UK; dois de seus filhos que também são americanos, Scott e Michael (pacers e drivers) e moram em Ohio / USA; Phill, maratonista de elite (pacer), também de Londres / UK; Andy (fisioterapeuta), de Taiwan; Greeg, americano e finisher da Badwater (pacer e driver) que mora na China; e eu!

Então tínhamos que ir para o Death Valley (California), com nossos dois carros: Dodge Avenger (carro espetacular, motor 2.7, completíssimo e com amplo porta-malas) e Toyota Sienna (um mega carro, sete lugares mais um gigante porta-malas).

A viagem era de 2h30min de duração, mas antes tínhamos que passar em vários lugares para abastecer de todos os suprimentos imagináveis (e inimagináveis) os carros.

Compras no caminho para o Death Valley

Após gastarmos muito (muito mesmo, deve ter sido uns US$ 1.000,00) em compras e com um carro no meu comando partimos para o Vale da Morte.

Dirigindo para o Vale da Morte

Uma viagem muito boa, com excelentes estradas, assim como para o Grand Canyon West, e com o conforto do carro, que ajudava muito, contando com controle de cruzeiro, entre outros.

Las Vegas já é muito quente, pois é em pleno deserto e a medida que nos aproximávamos do Death Valley a temperatura ia subindo mais, assim como podíamos perceber as lindas paisagens e também ventos fortes que esporadicamente formavam pequenos twisters.

Entrando no Death Valley National Park

Na entrada do Parque Nacional fizemos uma pequena parada na máquina self-service (assim como muitas coisas nos EUA) para pagar a taxa obrigatória por veículo.

Parada na entrada do Parque Nacional

Fomos direto para a Badwater Basin, o local da largada da corrida, que aconteceria dois dias depois.
O relógio marcava 18h30min e por lá só escurecia por volta após às 21h. No final da tarde é o horário mais quente do dia, devido ao calor acumulado pelo dia todo nas rochas que formavam o Vale da Morte, assim como também no asfalto. Badwater Basin é o ponto mais baixo e quente do planeta – 85,5 metros abaixo do nível do mar. Podemos ver atrás de nós, a quase uma centena de metros acima de nós, uma grandiosa placa escrito SEA LEVEL, indicando o ponto onde passa o nível do mar.

Badwater Basin

A visita a este ponto é altamente desencorajada nesta época do ano – pleno verão norte americano. Lá se encontra um pequeno lago, que no verão fica totalmente seco formando somente camadas de sal (salt flats) onde não se pode pisar com temperaturas maiores de 40ºC e agora a temperatura era de 48ºC.

De lá fomos para o nosso hotel, distante 28 Km – Furnace Creek Ranch, que apesar do nome (furnace = fornalha) é um grande oásis no meio deste deserto, contando com extraordinários confortos contrastando com a aridez desértica. Junto com o Furnace Creek Inn formam a rede Furnace Creek Resort e são as únicas duas opções de hotéis perto da largada. Além disto também há opções de campings para estacionamento de trailers (RVs) – que são muito utilizados por aqui – ou acampamento com barracas, porém os campings não são recomendados no verão, devido ao calor extremo.

Furnace Creek Ranch – um oásis no deserto

Neste local, a 100 anos – 10/07/1913, foi registrada a temperatura mais alta da Terra, com 134ºF (56,7ºC) e ao contrário do que podemos pensar, neste deserto não faz frio de madrugada, e sim muito calor, nesta época ficando por volta de 46ºC. Frio faz é no inverno, curiosamente no mesmo ano que foi registrado o recorde de maior temperatura em julho, seis meses antes, em janeiro, também foi registrado o recorde de menor temperatura de -10ºC.

Recorde de temperatura mais alta da Terra

Após o jantar fomos nos refrescar na piscina, que fica aberta (e cheia de usuários) até meia-noite.

No dia seguinte, logo cedo fui fazer um treino de aclimatação no Vale da Morte. Neste ponto, perto do hotel, existe a demarcação de uma ciclovia, para lazer dos hóspedes com bicicletas ou correndo.

Treino no Death Valley

Mais tarde fomos para a entrega de kits e pre-race meeting, realizadas numa tarde extremamente quente. Verifiquem no termômetro abaixo:

Tarde extremamente quente

Fizemos a retirada de kit do Mike, juntamente com a entrega de toda documentação obrigatória (do atleta e da Equipe) e fizemos nossa foto oficial.

Foto oficial da Equipe na Badwater Ultramarathon

Muitas personalidades do mundo da Ultramaratona participam desta prova, o clima é muito extraordinário, apesar da predominância norte americana, ouvimos muitos idiomas diferentes, entre os 100 atletas da prova este ano tínhamos três atletas do Brasil competindo. Os carros de Equipe todos personalizados tornam isto tudo muito legal. Aproveitei para tirar uma fotografia junto com o Dean Karnazes e aproveitei para conversar um pouco com ele, dizendo que já tinha o encontrado na visita ao Rio de Janeiro em 2009 e também falei que ia depois da corrida conhecer a cidade dele – San Francisco.

Com Dean Karnazes

O calor estava tão grande no pre-race meeting que meus tênis não aguentaram e descolaram o solado inteiro. Não podia acreditar que a reunião pré-corrida não seria realizada num amplo salão com ar-condicionado (como tudo por ali era) e sim num imenso gramado ao lado da piscina, sem sombras, às 2h da tarde e com a temperatura superior a 50ºC (como pode ver no termômetro mostrado anteriormente). Porém isto já indicava uma preparação para a prova.

Os tênis não aguentaram o calor – e a corrida nem tinha começado

Após isto ainda tínhamos o último compromisso técnico antes da corrida o crew training, treinamento da equipe de apoio para melhor atender seus atletas. Este foi realizado às 5h da tarde (muito calor ainda) em nosso próprio hotel.

Voltando aos nossos quartos era hora de deixar tudo pronto para o dia seguinte, então já levamos tudo para os carros de apoio e deixamos o restante no ponto de embarque.

Após uma ótima noite com ar-condicionado levantamos cedo para ir para a largada.
A Badwater Ultramarathon divide-se em três ondas de largadas: 6h, 8h e 10h da manhã, dividindo assim os corredores por suas velocidades, com os mais rápidos largando por último.
Como o Mike tem o ritmo mais lento, fomos escalados para a largada das 6h da manhã. Montamos uma estratégia que o carro pequeno iria direto para a última cidade antes da chegada (Lone Pine), a 196 Km da largada, levando tudo que usaríamos na parte final da corrida, já deixando em nosso quarto de hotel lá.
Então para benefício da Equipe fui eu dirigindo até Lone Pine, juntamente com Michael e Scott.
Enquanto isto Mike se encaminhava para largada, acompanhado de Greeg, Phill e Andy no carro maior.
Após uma longa jornada de estrada, contando ainda com uma parada para comprar coisas (mais!) para usarmos na corrida, voltamos ao Furnace Creek Ranch, justamente na hora que o Mike vinha seguindo pela estrada já chegando ao KM 30 de prova.

Encontrando Mike no KM 30

Agora todos nós tomávamos novas posições para seguir na corrida.
Michael e Scott ficavam no carro menor, enquanto eu, Greeg e Andy íamos no carro maior.
Phill fazia o pacer de Mike neste trecho.
Eu já começava a me preparar, pois seria o próximo a ser o pacer.

Todos nos seus postos seguindo o Mike

Tínhamos que ficar muito atentos a todas as regras da corrida, constantemente passava por nós carros de fiscalização. Só é permitido o uso de pacer após o Furnace Creek Ranch (KM 28) – Time Station One, onde o Phill começou e somente um pacer por vez, pois o acostamento da estrada é todo de terra e cascalhos, só contando com cerca de 20 cm de asfalto após a linha branca (onde os atletas correm para minimizar os efeitos do calor nós pés). O pacer não pode estar ao lado nem à frente do atleta, somente atrás. Os carros de apoio (quando for mais que um) não devem ficar juntos.

Fiz questão de levar a bandeira do Brasil para esta prova em muitos lugares: viseira, camiseta, bermuda e até na pele...

Braziliam flag everywhere!

Ah, não podia deixar de esquecer meus óculos Mormaii e protetor solar que era repassado constantemente.

De quando esperava a hora de eu seguir com o Mike, ia aproveitando a paisagem incrível do deserto e sempre hidratando muito com Gatorade e água.

Aguardando minha vez...

A estratégia de Mike era seguir pela estrada (correndo ou caminhando) por uma hora e depois parar por 10 min. Esta parada era feita junto ao carro de apoio. Tínhamos em mãos um guarda-sol e cadeira, além de muitos outros apetrechos para cuidar dos pés e das mãos. Mike levou um par de aparelhos de refrigeração das mãos, que funciona com bateria e gelo.

Pit-stop do Mike

Além disto, também o gelo do pescoço (envolto numa toalha tecnológica) era trocado a sempre que estes derretiam.

Com o relógio marcando meio-dia (6h de prova) e 74 metros abaixo do nível do mar iniciei meu percurso junto com o Mike.

E lá vamos nós...

O atleta segue sempre pela contramão dos carros, com os carros de apoio do outro lado da rodovia.

Ficava ali atrás do Mike conversando com ele e o ajudando a manter o ritmo, além de ajudá-lo também na hidratação e suplementação.

Mike ia com o corpo todo coberto de branco, ficando somente com um pedaço do rosto e as pontas dos dedos de fora. Eu preferi ir com boné branco, óculos de sol, camiseta meia manga branca com manguitos brancos, bermuda azul e meias de compressão branca. Sabia que mesmo muito quente só iria ficar nisto por cerca de uma hora, depois ia para o carro.

Pacer no Vale da Morte

Após uma hora chegou o momento do revezamento. Após a parada programada do Mike, Greeg foi para pacer e eu fiquei dirigindo o carro maior.
Parava o carro a cada 1 milha e esperava eles passaram e assim nós íamos os servindo da melhor forma possível.
Entre os vários apetrechos tinha em minhas mãos um borrifador de água, a fim de refrescar um pouco eles.

Borrifando água para refrescar

Tive a oportunidade também de encontrar o Mário Lacerda (grande comandante), Race Director da Brazil 135 Ultramarathon. Ele estava acompanhando a Equipe do Eduardo Calisto, brasileiro que figurava entre os favoritos desta edição da Badwater Ultramarathon. Ele liderou a prova por um bom tempo e ficou entre os três primeiros até cerca do KM 120, porém esta prova é cruel e cobra um preço caro se o atleta fizer algo errado. Eduardo teve que ficar parado num posto médico por cerca de 6 horas para se recuperar, mas não desistiu da prova e completou depois em 38h53min, ficando em 36º lugar.

Encontro com o Mário Lacerda no deserto

As horas se passavam, íamos nos revezando para atender o Mike. A estrada é muito dura, o calor não se dissipa e a Highway 190, onde é realizada a maior parte da prova, parece infinita.

Highway 190 – infinita...

A maioria dos carros que passavam por nós fazia questão de buzinar, piscar faróis, acenar ou até mesmo gritar para apoiar os corredores – muito legal! E a estrada possui várias placas de sinalização da corrida, apesar de que as melhores sinalizações são os carros de apoios, todos decorados e com, entre outros, um grande letreiro refletivo obrigatório escrito: CAUTION RUNNERS ON ROAD.

Sinalização na rodovia

O calor podia ser monitorado constantemente pelo termômetro do carro (ainda bem que me esqueci de levar o termômetro que comprei, pois só ia até os 50ºC).

Monitoramento do calor – agora 52ºC

Eu continuava seguindo o Mike, de carro ou a pé junto dele. A temperatura do asfalto chegou aos 94ºC que massacrava os pés de todos. Para fora do asfalto tínhamos agora uma imensidão de areia, estávamos atravessando a Sandy Dunes e Mesquite Dunes.

Atravessando as dunas do deserto

Encaminhávamos para Stovepipe Wells, onde poderíamos nos refrescar numa piscina! Mas antes disto tínhamos que atravessar uma pequena tempestade de vento e areia.

Tempestade de vento e areia à frente

Com o maior calor da prova até então (53ºC) o vento com areia só complicava tudo, então decidi ir correndo atrás do Mike com o borrifador de água nas mãos para minimizar o impacto da natureza.

Calor, vento e areia – prova extrema

Em fim chegamos a Stovepipe Wells (KM 67) – Time Station Two, uma mini cidade no meio do percurso. Íamos fazer uma parada mais alongada por lá, pois de lá tínhamos pela frente à noite do deserto e o início da primeira grande montanha da prova com 28 Km de subida contínua.

Stovepipe Wells – um oásis

Em Stovepipe Wells está localizado o Race’s Medical HQ – maior posto médico da prova, onde muitos atletas ficam muito tempo por lá para se recuperar de um dia inteiro de calor. Infelizmente muitos, mesmo ficando por horas no soro, não conseguem se recuperar e desistem da prova aqui mesmo.

Race’s Medical HQ

Também lá, como disse antes, se encontra uma maravilhosa piscina, que ajuda na recuperação de todos. Só tirei os tênis e fui rapidamente me refrescar.

Piscina em Stovepipe Wells

Após estes mimos todos enfrentamos a montanha e a escuridão da madrugada. No entanto a montanha nos reservava uma noite quente (46ºC) e com rajadas abafadas de ventos que exigiam um óculos de lentes transparentes para proteger os olhos, assim como um protetor para o rosto.
Após chegarmos ao final da longa subida, em Towness Pass, tínhamos uma descida de 12 Km.

Uma noite dura e quente

O final da descida coincidia com o final da noite, quando chegamos com o raiar do sol em Panamint Springs Resort (KM 116) – Time Station Three. Lá também tínhamos uma mini cidade de apoio à prova.

Panamint Springs Resort – o raiar do 2º dia

Saindo de Panamint Springs Resort já enfrentaríamos a 2ª grande montanha da prova, com 24 Km de subida contínua. Agora faltando 100 Km para o final da corrida o calor seria diminuído aos poucos mas ainda era bem quente e com muitas subidas.

Pacer no 2º dia de prova

Passamos por Darwin Turn-off (KM 145) – Time Station Four, que marcava o final desta subida e início de uma descida de 19 Km, nos levando para dentro da Highway 136.
Logo após o final da descida, tínhamos novamente um trecho plano, agora de 35 Km, passando por Keeler (KM 173), uma micro cidade no caminho para Lone Pine.

A caminho de Lone Pine

A partir das 6h da noite, mesmo com a escuridão só chegando por volta das 9h da noite, todos eram obrigados a utilizar coletes refletivos e luzes piscantes de posição na frente e nas costas, por questão de segurança.

Já podíamos agora visualizar o topo do Mount Whitney, onde em sua entrada estava a linha de chegada.
Nesta foto abaixo podemos verificar os corredores indo em direção a ele e o traçado da serra com 21 Km de subida até a finish line:

O nosso destino

Já de noite chegamos a Lone Pine (KM 196) – Time Station Five, a nossa última grande parada antes do fim da corrida. Abaixo pode-se ver o nosso carro de apoio sob o letreiro luminoso que marca o posto de controle:

Lone Pine – last stop

Tínhamos agora uma meia maratona (21 Km) só de subida com uma mudança drástica de clima, seguindo pela Whitney Portal Road entrando pela INYO National Forest, com ventos gelados e temperaturas chegando a 12ºC.

Trecho final da prova

Já podíamos sentir a animação da linha de chegada, neste ponto nos revezávamos rapidamente, com cada um por uns 15 min e nos últimas centenas de metros da prova a organização da prova permite que todos da equipe corram juntos com seu atleta – o que fizemos!

Últimos metros...

Então surge a linha de chegada, a 135 milhas (217 Km) de nosso início, a 2.551 m de altitude.
Após 45h33min05seg completamos a Badwater Ultramarathon. Êxito do Mike, por todo o esforço e superação, mas também por todos nós seis da Equipe de apoio pela logística que montamos e colocamos em prática.
Acabei correndo 60 Km, sendo o que mais corri de nossa Equipe.

Oficial Photo Finisher

Mike só tinha a pretensão de completar a prova, dentro das 48 horas limite, e conseguimos com mais de 2 horas de folga – só felicidade! A colocação oficial foi 71º lugar geral. Dos 100 Ultramaratonistas selecionados (entre os 2.500 pretendentes), 96 largaram em Badwater Basin e 81 completaram a prova (84,37%) – o número de desistentes não é muito alto, pois a seleção para a prova deixa o nível muito alto.

Felicidade de ser FINISHER!

Como chegamos de madrugada, fizemos um lanche no Whitney Portal Store e partirmos para o hotel descansar.

Após um breve descanso, nós da Equipe saímos para arrumar tudo nos carros de apoio e deixar tudo pronto para irmos para o Post-race Get-together marcado para ao meio-dia.
Chegando lá havia uma grande confraternização entre os atletas finishers, tudo com muita pizza e drinks. Muito legal o clima, todos os atletas são chamados nominalmente, uma grande festa!

Mário, Mike e Marcelino no Post-race Get-together

Após esta confraternização voltamos para o hotel para acabar de ajeitar tudo e voltar para Las Vegas.
Arrumamos tudo dentro dos carros, passando antes num posto da organização do evento destinado a deixar materiais para doação. Lá deixamos muita coisa, desde água mineral que sobrou até os gigantes coolers que compramos, o Mike é muito generoso e não queria levar nada de volta, doando tudo que podia. Muitas coisas ele me ofereceu e fiquei com muita vontade de trazer, porém estava com a bagagem limitada para meu voo para San Francisco e não podia levar.
Com isto, todos prontos para o retorno, mas antes resolvemos voltar para a linha de chagada, visto que o lugar era lindo e não apreciamos devido à escuridão da madrugada e ao cansaço da jornada.
Agora chegar ao Whitney Portal de carro era uma tarefa fácil e de longe podíamos ficar maravilhados pela beleza do local.

Voltando aos pés do Mount Whitney

Apesar de ser uma quarta-feira podíamos ver como o povo norte-americano dá valor às belezas naturais. O estacionamento estava lotado de carros e com muitas famílias fazendo pic-nics.
Um lugar maravilhoso, com muitas pessoas caminhando, indo escalar e se aventurar no Mount Whitney. Cascatas emolduram a paisagem assim como esplendidas árvores e rochas.

Desfrutando as belezas do Mount Whitney

Pegamos a estrada e voltamos à Las Vegas chegando já de noite para agilizar nossos novos planos.
Mike, Michael e Scott pegariam seus voos no mesmo dia. Eu, Phill e Greeg íamos para o Aria Resort & Casino, outro imenso hotel da cidade, enquanto Andy ia para outro hotel.

De volta a Las Vegas – agora no ARIA

Agora tinha mais dois dias em Las Vegas para conhecer um pouco mais. O Aria é tão grande quanto o MGM Grand e tem tantas atrações que nem dá vontade de sair de lá. Fiz questão de ir ao imenso parque aquático, afinal de contas estava de volta ao calor de Las Vegas.

Minha nova casa por dois dias

Também não pude deixar de ir (correndo) tirar uma foto na clássica placa da entrada de Las Vegas para me despedir desta magnífica cidade.

A clássica foto de Las Vegas

No dia seguinte eu acordava cedo entregava o carro que tinha alugado para a corrida e pegava meu voo para San Francisco, onde ficaria por 7 dias desfrutando da costa dourada dos EUA, saindo desta cidade e indo de carro por Los Angeles até San Diego por uma rodovia considerada uma das mais belas do mundo, a US 1.

Chegando à San Francisco já podia notar a diferença do clima, muito mais ameno, e com uma brisa maravilhosa do Oceano Pacífico.
Do aeroporto fui pegar meu novo carro alugado e depois ir para o hotel.
Tinha apenas até o dia seguinte para ficar em San Francisco, então aproveitei para ir logo à Golden Gate Bridge, claro que correndo, pois esta ponte permite que se passe por ela correndo, caminhando ou de bicicleta, por uma calçada gradeada.

Correndo na Ponte Golden Gate

O passeio por San Francisco foi maravilhoso, mas quase tive hipotermia devido ao frio. Na verdade o frio não era tão grande, apesar dos ventos fortes, mas acho que o problema foi a mudança drástica de temperatura até chegar lá.

No dia seguinte estava lá eu já partindo em direção ao sul com destino à cidade de Santa Cruz, distante 130 Km. A estrada era maravilhosa e linda. No caminho uma parada no Pidgeon Point Light, um farol usado para guiar os navios que navegam pelo Oceano Pacífico perto dali.

Parada no Pidgeon Point Light

Mais 40 Km de estrada e um magnífica obra de Deus, a Natural Bridges State Beach, um praia (cheia de gente – igual a todos os outros atrativos naturais dos EUA) que tem formações rochosas esplendidas.

Visita a Natural Bridges State Beach

Agora já estava a apenas 4 Km de meu destino, o Santa Cruz Beach Boardwalk, tradicional parque de diversões com mais de 100 anos.

Chegando ao Santa Cruz Beach Boardwalk

E o legal deste parque é que ele foi projetado bem na praia (nos EUA tem muitos parques assim) e a praia é excelente para banho também. O acesso é gratuito, e só paga-se pela atração que decidir brincar (de US$ 3 a US$ 6), porém tem a opção de passaporte (que escolhi – US$ 32) de dá direito a infinitos acessos as atrações no dia.

Entrando no Santa Cruz Beach Boardwalk

Foi um dia bem legal e divertido com muitas atrações radicais. O entorno do parque também tem muitas opções de bares e restaurantes.

Diversão no parque...

Saindo bem tarde da noite do parque segui meu caminho para o sul, tinha 590 Km até Los Angeles.
A estrada, além de ser excelente, oferece aos usuários (não tem pedágio) várias Rest Areas, que são áreas de descanso para motoristas de carros de passeio. Numa desta parei para dormir, tinha comigo um excelente e espaçoso NEW FORD FOCUS, então foi só rebater os bancos e dormir. Estas áreas de descanso oferecem vários serviços de alta qualidade: banheiros, máquinas eletrônicas de dinheiro, bebidas e lanches, entre outros.
Após o descanso foi ligar o carro e continuar até chegar à Los Angeles, que oferece uma infinidade de atrações aos turistas.
Fui para meu hotel e depois direto para Hollywood.
Para conhecer Hollywood Hills deixei meu carro na entrada para o mirante e subi correndo, com direito a desbravar umas trilhas de terra para conseguir uma imagem melhor do famoso letreiro.

Correndo em Hollywood

Descendo do observatório e voltando para o carro agora o destino era bem ao lado, a calçada da fama, que se estende por mais de 1 Km tendo dos dois lados da rua centenas de estrelas e em frente onde é feita a entrega do Oscar mão e pés com autógrafos.

Pisando a calçada da fama

No dia seguinte teria uma visita ao bairro das estrelas: Beverly Hills, onde só tem mega mansões de luxo.

Passagem por Beverly Hills

Após a visita a Beverly Hills fui passar o dia no maior parque de montanha russas do mundo, Six Flags Magic Mountain, distante apenas 60 Km.

Chegando ao Six Flags

O parque oferece 15 grandes montanhas russas, além de outras pequenas e mais algumas outras atrações radicais e mais amenas. Um imenso parque de diversões!

 Escape from Krypton – a montanha russa do Superman

Como estávamos em férias de verão nos EUA o parque estava bem cheio, mas deu para aproveitar muito, indo a quase todas as atrações.

O parque mais radical do mundo!

Saindo de noite do Six Flags seguia meu caminho para o sul, agora para minha última cidade dos EUA, San Diego, distante 240 Km.
Fui direto para casa do amigo Márcio Santos, onde ficaria por 2 dias nesta maravilhosa cidade.

No dia seguinte a melhor forma de conhecer a cidade – correndo, agora pela Pacific Beach, uma linda praia de águas geladas com visual bem similar com o que temos aqui no RJ.

Correndo em San Diego – Pacific Beach

O restante do dia foi de passeio de carro, com direito a ida num Outlet na fronteira com o México (um lado do muro do shopping é EUA o do outro México), mais uma boa experiência.

No dia seguinte a minha última atividade programada nos EUA, um parque aquático, o Aquatica – pertencente ao SeaWorld.

Aquatica – SeaWorld’s Water Park

Após 16 dias de viagem pelo oeste norte americano fui para o aeroporto pegar meu voo, com escala em Dallas, para retorno ao RJ.

Foi uma experiência incrível, segunda vez nos EUA, primeira vez na Badwater Ultramarathon.
Agora é treinar bastante e torcer que todos os planos deem certos para ano que vem retornar ao Vale da Morte, para agora eu competir!

Um grande abraço a todos que me acompanham e apoiam e estavam ansiosos por esta postagem.

Agora escrevam aqui abaixo e contribuam um pouco para esta história!